Ishmael hoje participa de projetos e palestras da Unicef, relatando seus acontecimentos e mostrando que é possível mudar e mudar pra melhor.
Segue uma entrevista que encontrei no site G1 com o próprio Beah um pouco antes de participar da Feira Literária Internacional de Paraty - FLIP - em 2007.
G1 - No seu livro de memórias, você diz que vive em três esferas: o presente, o passado e os sonhos. Como é conciliar esses mundos diferentes? A literatura tem ajudado nisso? Você, que passou a infância numa aldeia, em meio à natureza da África, sente-se adaptado e confortável em Nova York?
Ishmael Beah - O passado, o presente e os sonhos me fizeram ser quem eu sou hoje. Eu aprendi e ainda estou aprendendo a viver com todos os aspectos da minha vida. Hoje, eu uso as experiências de cada capítulo da minha vida como ferramentas úteis para viver bem e em paz. A literatura, ou melhor dizendo, o ato de escrever, tem me ajudado porque me permite entrar em contato com minhas memórias mais difíceis e entendê-las. Isso acabou se tornando uma forma de “cura”, ainda que não tenha sido este meu objetivo ao iniciar minha vida de escritor.
Eu me sinto bem em Nova York porque é um lugar onde é fácil ser anônimo. Mas eu sinto falta da minha casa de infância, onde a proximidade da natureza trazia a simplicidade de viver.
G1 - Você tem viajado por todo o mundo para divulgar sua história. Quais suas expectativas com Paraty e como espera que as pessoas reajam a seu livro?
Beah - Eu quero que as pessoas saibam de onde eu vim – minha história não apenas durante a guerra, mas também antes e depois. Eu espero que se conscientizem sobre o uso cada vez maior de crianças nas guerras em todo o mundo. E o mais importante é que todos vejam a humanidade naqueles que tiveram uma vida violenta, saibam que são capazes de se recuperar quando recebem ajuda e apoio devidos. Espero que os brasileiros possam se sensibilizar com os apelos de todas as crianças que sofrem em qualquer lugar do mundo.
G1 - No Brasil, há gerações de jovens sendo perdidas, vítimas da violência urbana nas áreas pobres das grandes cidades. Não é uma guerra civil como a que você viveu, mas há semelhanças: há garotos de 12 anos transformados em soldados do tráfico de drogas, portando fuzis. Eles cometem crimes, matam, torturam e são mortos antes de completar 20 anos. O que você pensa deste tipo de “guerra” que ocorre no Terceiro Mundo?
Beah - De forma alguma podemos permitir que qualquer criança não tenha infância ou tenha uma infância miserável. O que a violência faz ao espírito humano é o mesmo em qualquer lugar. As circunstâncias talvez sejam diferentes, mas o sofrimento é o mesmo. Isso impede que as pessoas conheçam a si próprias, conheçam sua humanidade e vejam o que são capazes de fazer numa vida sem violência.
G1 - Você está gostando da vida de autor? Pretende escrever mais livros? Há novos projetos em andamento?
Beah - Sim, eu estou curtindo a vida de autor porque eu acredito que o objetivo que me levou a escrever meu livro se realiza quando mais e mais pessoas têm consciência sobre o uso de crianças nas guerras e as possibilidades de sua reabilitação. Eu estou trabalhando em um novo projeto, mas está muito cedo para falar sobre isso. Mas em breve eu voltarei a escrever.
G1 - O que você acha da situação de seu país hoje? Tem alguma esperança de um futuro melhor para os que continuam a viver lá?
Beah - A situação em meu país é muito difícil porque a corrupção política endêmica continua. Mas eu acredito na força do povo, na sua resistência, no esforço para mudar e na esperança de um futuro melhor. Mas essas coisas não vão acontecer da noite para o dia.
G1 - Você continua gostando de rap? O que está ouvindo agora?
Beah - Eu não tenho tido tempo para o rap, mas eu ainda amo esta música, especialmente as mais antigas e algumas poucas novas que são mais poéticas. Um dos meus MCs favoritos atualmente é um cantor da Somália chamado K’naan que vive em Toronto. Seu álbum chama-se “The dusty foot philosopher”. Suas músicas trazem o que o verdadeiro hip hop deveria mostrar: poesia, histórias e consciência social que estão em falta no cenário atual.
1 comentários:
adorei a entrevista luana
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